Sede da Guilda de Byentil Alleguder

Galahad sentia vontade de enfiar sua cabeça de baixo da terra. Os dois que estavam andando com ele eram peculiares demais pro seu gosto. Mas sair agora seria contra seus princípios, então era melhor continuar. Após andarem por algum tempo, os três - ou quatro, ou cinco - chegaram na entrada da Guilda. Yone desceu de Relíquia e Asdis deixou o espírito que carregava seguir seu caminho, e entraram no seu salão.


Aventureiros andavam por todos os lados do salão, alguns querendo criar grupos, outros querendo novatos para "ensiná-los como ser um aventureiro", mas isso não era nada além de uma desculpa para ter iscas vivas para fugas de lugares muito complicados. Yone fechou a cara reclamou sobre pobres, mas Galahad fez o maior esforço para apenas ignorar isso.

Atraindo um ou outro olhar curioso, principalmente pela presença de Asdis, se dirigiram até o balcão de informações, com a intenção de se registrarem como aventureiros e formalmente criarem um grupo.

-Bem vindos. Gostariam de se registrar como aventureiros? - A atendente os recepcionou com um sorriso no rosto.

-Sim, exatamente. - Galahad respondeu. Ela deve estar acostumada a fazer isso já...

-É tão bom ver novos aventureiros se juntando! É uma pena que normalmente todos voltam pedindo para sair após quase morrerem e seus amigos todos serem mortos por monstros horrendos fora dos muros das cidades. - Um sorriso extremamente sombrio estava estampado no rosto dela, e os três sentiram um arrepio na espinha. - Mas ignorando esse detalhe irrelevante, como são novatos, vão entrar no nível mais baixo, o ranking violeta. Depois dele tem o anil, azul, verde, amarelo, laranja e por último o vermelho, seguindo as cores do arco-íris. Aqui, preencham suas informações nessas fichas e me devolvam. - Enquanto explicavam, ela pegou os papéis de debaixo da mesa e alcançou para os três, que os pegaram e foram se sentar em uma das mesas para preencher.

Galahad leu todo o documento prestando muita atenção, e o preencheu com seus dados. Quando acabou, Asdis e Yone já haviam acabado e estavam esperando que ele acabasse. Ele apenas deu um sorriso amarelo por os fazer esperar, e juntaram os papéis para devolver. Após isso, a mesma recepcionista lhes entregou suas placas de aventureiro, com suas cores nelas. Elas tinham um brilho iridescente, deixando como belas peças de arte, além de excelentes placas. Pelo visto, elas eram encantadas e as informações que eles preencheram nos papéis já estavam nelas.

Com isso, os três se dirigiram até o quadro de trabalhos da guilda, e notaram que todos os contratos tinham selos indicando seus rankings. Por sorte, haviam vários contratos de ranking violeta. Passando os olhos por vários, um chamou a atenção do trio. Uma horda de cervos pareciam infectados com raiva, e o contratante os queria vivos.

-Minhas habilidades são mais defensivas, então deve ajudar para conseguirmos lidar com eles.

-A minha música com certeza vai acalmar eles. - Falou Asdis sorrindo.

-E eu devo conseguir criar uma cura para eles. - Respondeu convicto

-Certo, então vamos lá!

E assim, os três saíram da guilda com seu primeiro contrato em mãos.

Na volta pra guilda, Yone acabou recobrando a consciência em cima de Relíquia, ao chegar na entrada do local ele desceu da égua e deu um tapinha em seu ombro.

- Obrigado, Relíquia. Pode descansar aqui na entrada, eu já estou melhor, logo trago algo para você comer – agradeceu Yone, Relíquia relinchou satisfeita e fechou os olhos, começando a dormir de pé mesmo.

Ao chegarem na guilda, o trio se dirigiu ao balcão para reivindicarem sua recompensa, chegando lá, a balconista os recepcionou com um sorriso no rosto.

- Boa noite meninos! O que desejam?

- Viemos reivindicar nossa recompensa, nós acabamos de resolver o problema dos cervos com raiva – Respondeu Galahad.

- O problema dos cervos... – A mulher pareceu conferir uma lista de missões por um tempo, e então pegou a recompensa deles. – Certo, aqui está.

- 10?! 10 moedas de ouro?!? Só dez moedas de ouro?!?! – Exclamou Yone, completamente indignado ao receber a recompensa. – Eu quase morro lá pra receber só 10 moedas de ouro?!? – Reclamou Yone.

- Ué, Yone. Eu pensei que você estivesse  perfeitamente bem – implicou Galahad, Yone olhou para ele com uma cara emburrada.

- Isso não vem ao caso agora.

- Perdão, senhor. Mas nós recompensamos de acordo com o nível do ranking, rankings mais elevados ganham recompensas mais altas.

- Humpf. Bando de pobres! Isso não paga nem as rações da minha égua! - retrucou Yone, com desdém.

- Isso é uma grande quantia de dinheiro, Yone. Poucas pessoas têm acesso a 10 moedas de ouro. Deveria agradecer por isso – respondeu Astoria, que já estava com o rosto coberto, fazendo Yone torcer o nariz.

- Agradecer por uma merreca dessas é coisa de pobre! Eu não vou agradecer coisa nenhuma! – Respondeu.

- Para de fazer escândalo, Yone! Nós sentimos muito por nosso companheiro, moça. Ele é meio... Bem, assim... Com licença, poderia nos informar onde ficam os quartos? – Perguntou Galahad para moça após se desculpar pelo comportamento do Drow.

- Ah, claro. Ficam naquele corredor ali – a mulher apontou para o corredor dos quartos. – Aqui, tomem a chave de um dos quartos.

- Obrigado – Agredeceu Galahad, depois disso esticou o braço pra puxar Yone pela sua orelha pontuda. – Vamos dormir e pare de arranjar encrenca – resmungou ele, mal-humorado.

- Ai, ai! Solta a minha orelha!

Galahad abriu a porta do quarto e entrou, era consideravelmente bonito e arrumadinho, mas Yone torceu o nariz por ser “muito pobre” mesmo assim. Pensando que deveria deixar os outros dois descansarem bem, Yone disse:

- Vou pegar um outro quarto, provavelmente vou ficar mais um tempo acordado, então vou precisar de luz.

- Você não vai dormir? Você se desgastou muito hoje, deveria descansar bastante pra amanhã – Perguntou Astoria, mas Yone negou com a cabeça.

- Eu estou plenamente bem, não preciso descansar mais. Como ficamos o dia todo em função dessa história de cervos acabei por atrasar minhas pesquisas – Respondeu, mas não era exatamente esse o motivo de ele não querer dormir.

- Tem certeza? Você ainda não me parece muito revigorado... – Disse Galahad.

- Engano o seu – respondeu Yone – Bom, de qualquer forma, boa noite, Galahad. Boa noite, Alexa.

- É Astoria! – corrigiu a menina, braba.

- Tanto faz – Disse Yone, antes de se retirar.

Yone pegou uma chave para outro quarto no balcão e antes de entrar em seu quarto, foi desencilhar Relíquia a fim de dar um descanso adequado à Égua e pegou as suas coisas. Ao chegar no quarto, Yone se sentou em uma mesinha que tinha lá e começou a abrir seus livros.

- Pedra Filosofal... O que vocês têm a me dizer sobre isso... – Yone disse para si mesmo enquanto folheava os seus livros.

Yone possuía diversos livros de alquimia, dos mais comuns de se encontrar nas livraria e bibliotecas, ao mais raros e de difícil acesso. Apesar de claramente já ter obtido muito conhecimento sobre alquimia com tantos livros, seu objetivo sempre foi apenas um: obter a Pedra Filosofal. O conhecimento sobre ela era proibido, muitas vezes não era mencionada em nenhum livro de alquimia, ou se era, era tratado como uma lenda e nem um pouco aprofundado. Então mesmo que Yone tivesse vários livros sobre alquimia, não achava nada sobre como obtê-la em lugar nenhum.

- Aaargh! Inútil, inútil! Totalmente inútil! Uma porção de livros sem serventia alguma! – Exclamou Yone, frustrado por não conseguir o que queria.

Yone tentou até mesmo procurar em livros proibidos sobre oculto, livros sobre objetos mágicos e até mesmo um livro que falava sobre tipos de pedras, mesmo que não tivessem uma ligação muito direta com a Pedra Filosoal. Mas também não encontrava nada sobre. Após várias horas de leitura procurando sobre alguma informação sobre a pedra, devido à exaustão física e mental daquele dia, Yone acabou adormecendo sem perceber.

Yone estava brincando no jardim de seu castelo. O chão parecia estar muito mais perto dele e em sua mão tinha um cavalinho de madeira. Yone monta no cavalinho e se imagina como um belo cavaleiro montado em seu alazão, atraindo olhares admirados de todos por quem passava, e olhares de inveja de pobres que nunca poderiam ter a elegância e realeza dele.

- Yone! Vem cá! – A voz de uma menina o chamou em um tom carinhoso.

- Mana! – Gritou o pequeno Yone, com um grande sorriso no rosto, correndo até sua irmã mais velha que estava na porta do palácio.

- Yone, vamos brincar de esconde-esconde! – disse Yara, com um sorriso meigo. Yone concordou com a cabeça empolgado, adorava brincar de esonde-esconde. – Muito bem, você conta e eu me escondo!

- Tá bom – concordou Yone, com um sorriso, se virando contra a parede do palácio e começando a contar. – 1... 2... 3... – Yone pacientemente contoi até 10, após terminar a contagem ele se virou para começar a procurar sua irmã.

O ambiente havia mudado, se tornou mais escuro e sombrio, o brilho do sol parecia ter desaparecido e as flores e plantas em volta estavam mais secas e murchas que o normal. Yone ficou assustado.

- Mana? – Chamou Yone, assustado, começando a se preocupar. – Mana, o-onde você está? - Ele continuou andando pelo lugar, devagar e assustado. - Mana, e-eu acho que não quero mais brincar... Está escuro aqui. E-eu estou com medo... - disse ele, apavorado, mas nem sinal de sua irmã. - Mana, cadê você?! – Perguntou Yone, desesperado, começando a correr.

De alguma forma, os passos do pequeno Yone o levaram até ao seu bom e velho laboratório, que Yone costumava fazer suas pesquisas e experimentos. Não sabia porquê, mas Yone tinha um pressentimento ruim sobre aquilo, e ao abrir timidamente a porta, Yone viu a cena que mais havia lhe marcado mais uma vez...

- Y-Yone! Me ajude!!! – Gritou Yara, enquanto seu corpo era absorvido por um enorme círculo vermelho no chão.

- Yara!!! – Gritou Yone, apavorado. Tentava mexer suas pernas, mas elas não saiam do lugar, tentava chegar até ela, mas não conseguia. – Yara! Yara! – Gritou o drow novamente, mas quando finalmente conseguiu chegar até o círculo, já era tarde demais... – Não... Yara... Você não... – Yone tentava falar, mas sua voz saía falhada por causa de suas lágrimas. – Mana...

Enquanto Yone chorava em cima do círculo, o cenário mudou novamente, dessa vez tudo ficou preto. Um completo breu, Yone ficou ainda mais desesperado.

- O-onde eu estou?

- Por que você fez isso comigo, Yone? – Perguntou Yara, com certa amargura na voz.

- Y-Yara! – gritou ele. Yone correu em direção à sua irmã e a abraçou. – Yara, me desculpe! E-eu não quis, eu vou trazê-la de volta, eu prometo! - Se desculpou ele, desesperado, mas Yara não quis ouvir.

- Você não pode desfazer o que já foi feito - Ao ouvir aquilo, os olhos de Yone se arregalaram. - Você quis sim, Yone. Tudo isso foi sua culpa, você sabe muito bem o porquê – Respondeu sua irmã, Yone olhou pro rosto dela, estava com uma expressão muito mais sombria e apática. Assustado, Yone se separou do abraço.

- N-não foi! E-eu nunca quis que chegasse a isso, eu juro! – Gritou Yone, suas lágrimas voltaram a escorrer incessantes.

- Você quis, Yone! Você sabe muito bem o que fez! É tudo culpa sua! É tudo culpa sua! É tudo culpa sua! – Yone conseguia ouvir a voz de Yara se repetir várias e várias vezes, repetindo a mesma frase. Ele fechou seus olhos e colocou a mão nos ouvidos, pedindo pra que aquilo pare, mas as vozes continuaram a repetir.

“É tudo culpa sua!”

Yone acorda de repente, com os olhos bem arregalados. Sua respiração estava descompassada, sua testa estava úmida de suor frio e podia sentir no seu rosto que lágrimas haviam escorrido de seu rosto enquanto dormia. Após levantar sua cabeça da mesa ele finamente entendeu o que aconteceu.

- Cacete... Eu dormi... – Yone raramente falava palavrões, pois dizia ser coisa da plebe tal atitude deselegante, mas acabou deixando escapar dessa vez. Ao olhar pela janela, viu que o sol já estava nascendo, e só então ele reparou que estavam batendo em sua porta com certa força.